O desenvolvimento do sul global depende do socialismo

Bruno
4 min readNov 8, 2022

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O sistema capitalista há muito tempo já foi compreendido como sendo um sistema econômico de caráter global e que funciona no esquema centro-periferia. Para que os países centrais tenham desenvolvimento tecnológico e produtividade do trabalho alta sem que as margens de lucro sejam reduzidas é necessário que estes países explorem a mão-de-obra e os recursos naturais dos países periféricos. Com o progresso tecnológico ocorrido nos países centrais, a parcela do capital fixo (máquinas) se eleva em relação ao capital variável (trabalho humano), reduzindo a margem de lucro proveniente da mais-valia. Essa redução é compensada pelo super-lucro e pela expansão de mercados consumidores e exploração de recursos naturais nos países periféricos.

A consequência direta dessa relação econômica no campo da política é o imperialismo dos países centrais sobre os periféricos, que não depende de nenhum fator moral, sendo na realidade uma necessidade material da manutenção do sistema capitalista global. O imperialismo sustenta o capitalismo, sem a atuação política que organiza os corpos e a natureza, não há manutenção de nenhum sistema econômico.

Uma consequência desse sistema é o caráter de total competição entre cada país e cada região do planeta. Os países centrais vivem em guerras militares, econômicas e políticas para dominar uma parcela maior dos recursos humanos e naturais disponíveis nos países periféricos. E os países periféricos disputam entre si pelo excedente de capital dos países centrais que buscam novas regiões do mundo com maior margem de lucro realizável, por esses países terem menor desenvolvimento tecnológico e, por isso, uma maior parcela de capital variável na formação de capital local, o que permite maiores taxas de mais-valia, ou seja, maiores taxas de lucros.

Impedidos de desenvolverem seus meios de produção por conta da subordinação política e econômica que sofrem no sistema centro-periferia, resta a esses países periféricos o desenvolvimento retardatário proveniente de investimento estrangeiro vindo dos países centrais. Essa relação gera uma dupla dependência desigual: os países centrais precisam dos periféricos com seus mercados consumidores, sua mão de obra barata e seus recursos naturais; e os países periféricos precisam dos países centrais com seus investimentos em dólar para propiciar um lento desenvolvimento econômico, sem progresso tecnológico expressivo e altamente instável financeiramente devido a dependência de capital externo.

Por tais razões de dependência, não é permitido políticamente, e em última instância militarmente, o desenvolvimento econômico de países periféricos no sistema capitalista global. As exceções a essa regra foram a União Soviética e a China, que enfrentaram o sistema econômico vigente no âmbito da política, do militarismo, da economia e até da cultura, para que buscassem a manutenção de sua existência. A União Soviética não foi tão bem sucedida como a China, até o momento presente. Por outro lado, houve o desenvolvimento econômico da Coréia, de Taiwan e outros países e regiões antes periféricos que tivesseram seu desenvolvimento propiciado pelos países centrais como estratégia geopolítica na Guerra Fria. Se não houvesse a União Soviética como ameaça a hegemonia dos EUA, a Coreia do Sul não teria se desenvolvido economicamente como ocorreu, tendo apoio econômico e militar dos EUA e Japão.

O recente desenvolvimento da China no início do século XXI impulsionou o crescimento do PIB em diversos países pelo mundo, incluindo os EUA e o Brasil, o que demonstra que o desenvolvimento econômico de um país periférico pode ser benéfico também para os países centrais. O progresso tecnológico da humanidade é de interesse de todo o planeta. Entretanto, o caráter competitivo, imperialista e exploratório dos países centrais do sistema capitalista sempre boicotará o desenvolvimento econômico de países periféricos, como ocorreu com o Brasil com Getúlio Vargas e mais recentemente com Dilma Rousseff.

O modelo econômico socialista, ou pelo menos o que há de mais próximo desse modelo teórico hoje no mundo (o modelo econômico chinês) tem demostrado ser muito mais tolerante e cooperativo com os países periféricos do mundo do que o modelo econômico estadunidense. Por isso, seja com o China na liderança desse processo ou outro país, o socialismo é a única esperança para o desenvolvimento econômico pacífico dos países periféricos do mundo.

Por se pautar no aumento da produtividade do trabalho, que depende do progresso tecnológico e do domínio sobre a natureza, o modelo econômico socialista permite um desenvolvimento não exploratório e não dependente no centro e na periferia do capitalismo como se estabelece hoje no mundo. Enquanto o modelo econômico vigente no mundo for capitalista, o que estará no centro do desenvolvimento econômico será sempre o lucro, que depende da exploração da mais-valia sobre o capital variável na formação de capital em cada país, e por tal razão, o imperialismo será sempre uma barreira quase intransponível aos países periféricos como o Brasil.

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