Esqueça o Comunismo, o Brasil precisa é de uma Revolução Burguesa

Bruno
5 min readOct 1, 2022

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As revoluções populares ocorrem em situações de duradoura crise social e podem desencadear em avanços sociais ou retrocessos. O papel que as lideranças políticas cumprem nesses períodos é rumar as massas para uma processo de ruptura que pode levar ao socialismo, ao fascismo, ao nacional-desenvolvimentismo ou mesmo a social-democracia ou ao liberalismo. No momento de crise, ruptura e revolução, várias possibilidades de substituição do modelo anterior poderão surgir no horizonte e serão tentadas por diversas lideranças em disputa pela adesão das massas revoltosas. Por isso, é fundamental que nesse momento haja um partido de massas com popularidade suficiente para propor uma agenda favorável aos trabalhadores com o apoio do povo nas ruas em greves gerais, movimentos de desobediência civil, e etc.

No centro do capitalismo, as crises econômicas e sociais são frequentes, porém menos graves e de menor duração se comparadas aos países periféricos. E, por isso, as condições materiais para uma revolução socialista nos países centrais do capitalismo só se dará após o esgotamento do desenvolvimento das forças produtivas nesses países, o que não parece próximo visto a constante elevação da produtividade do trabalho global nas últimas décadas.

Nos países periféricos, onde a superexploração do trabalho e o imperialismo se impõem aos trabalhadores, as crises são mais frequentes e mais duradouras, dando condições materiais para as revoluções socialistas. É por essa razão que todas as revoluções socialistas do século XX ocorreram em países periféricos. Entretanto, nesse cenário, os governos socialistas não conseguem se manter ao longo dos anos sem retroceder à democracia burguesa (ou ditaduras burguesas) ou caminhar para uma burocratização antidemocrática do Estado (estalinismo) se não se expandirem para outras regiões do mundo. Essa expansão se demonstra inviável visto que os países periféricos têm poucas condições materiais de enfrentar o sistema capitalista dos países centrais com sua superioridade econômica e militar. Dessa forma, pode-se concluir que uma revolução socialista que se expanda pelo mundo e se mantenha de pé sem cair no estalinismo só se dará quando surgir em um país central do capitalismo global.

Dessa maneira, uma revolução socialista nacional que se expanda pelo mundo só será possível após o máximo desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo em caráter mundial. Podendo-se concluir, então, que um mundo socialista está distante de ser uma realidade material no mundo. Além disso, a concreta extinção do capitalismo como modo de produção só será viável quando a planificação da economia for possível sem que impeça os avanços técnicos e tecnológicos causados pela destruição criativa que hoje é possibilitada pelo sistema capitalista. O que não significa que revoluções socialistas não poderão ocorrer no mundo antes da possibilidade da planificação da economia, já que o socialismo de mercado pode ser administrado pela classe trabalhadora em um período de transição até a extinção da propriedade privada dos meios de produção.

Acontece que, o desenvolvimento das forças produtivas no Brasil, e na maioria dos países periféricos, não se dará de forma acentuada em direção ao desenvolvimento do país por um projeto da burguesia. O catchup tecnológico necessário ao desenvolvimento e modernização das forças produtivas do Brasil só será realizado através de uma revolução burguesa norteada por um partido popular de massas, por um golpe militar (como foi o Estado Novo), ou por ajuda internacional (como o caso da Coreia do Sul). É ilusório acreditar que um Projeto Nacional de Desenvolvimento será concretizado no Brasil por via apenas eleitoral. Apenas a agudização da crise econômica no Brasil, com uma estagnação econômica de longa duração e uma deterioração da massa salarial e do nível de emprego, dará as condições materiais para a chegada ao poder de um partido de massas eleito nas urnas e que tenha força nas ruas para a execução de um Projeto Nacional de Desenvolvimento que resista aos ataques da burguesia nacional e internacional pelo tempo necessário para o desenvolvimento das forças produtivas no Brasil, alcançando, dessa maneira, a produtividade do trabalho dos países centrais do capitalismo.

Tal governo popular que coloque em prática tal agenda desenvolvimentista, e necessariamente anti-imperialista, seria combatido pela burguesia nacional e internacional, visto que enfrentaria diretamente as forças conservadoras do modelo vigente no capitalismo global. Tais ataques ocorreriam de forma semelhante ao que ocorreu nos países que passaram por revoluções socialistas no século XX, porém com muito menor intensidade, já que um nacional-desenvolvimentismo é uma ruptura muito mais branda ao sistema vigente do que o socialismo. Assim sendo, a possibilidade de tal período desenvolvimentista ser bem sucedido é muito maior do que a chance de um governo socialista no Brasil durar muito tempo dentro de um regime democrático. Entretanto, os ataques da burguesia nacional, um possível cerco internacional, a possibilidade de sofrer operações de guerra híbrida e as sanções econômicas que poderão ser impostas dificultariam o desenvolvimentismo brasileiro e possivelmente levariam progressivamente a um retrocesso ao modelo econômico vigente no período anterior a revolução (como ocorreu com o Golpe de 1964 no Brasil, que interrompeu o movimento histórico iniciado com Vargas). Então, governos desenvolvimentistas liderados por partidos de massas com propósitos além dos da elite burguesa não poderiam se sustentar indefinidamente no Brasil, mas teriam grande possibilidade de perdudarem pelo tempo necessário para o catchup tecnológico.

Com isso, o caminho que o Brasil deve seguir é elevar a consciência de classe da população, organizar um partido de massas com inserção na sociedade, para que, no próximo período de crise prolongada e ruptura que ocorrer no Brasil, seja eleito um governo que retome um programa desenvolvimentista com apoio das massas e que faça a revolução burguesa que nossa burguesia jamais fez ou fará. Ainda que seja esperado que com o passar dos anos, talvez décadas, esse programa nacionalista e trabalhista seja progressivamente enfraquecido com a oposição da burguesia nacional e internacional e o Brasil retorne ao modelo atual de economia, onde a economia voltaria a ser administrada pela burguesia nacional e não mais por um partido de massas com o apoio da classe trabalhadora. Poderia ocorrer, então, a progressiva transição do nacional-desenvolvimetismo para o social-liberalismo.

Dessa forma, antes de pensar em uma revolução socialista, que depende do máximo desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo, o Brasil precisa pensar em como elevar a consciência de classe da população e fortalecer um partido de massas para fazer a revolução burguesa que começou nos anos 30 mas foi interrompida nos anos 60.

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