Uma estratégia de sobrevivência na economia brasileira

Bruno
11 min readAug 16, 2021

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Como país atrasado tecnologicamente, o Brasil é um país com poucas vagas de emprego bem remuneradas e o que resta a cada brasileiro individualmente é competir pelas melhores vagas no setor público ou privado, ou empreender e disputar com os concorrentes uma parcela da pequena renda nacional. Como os bons empregos no setor privado dependem muito de questões como networking (na linguagem popular: peixada), sorte ou um diploma em Medicina, o setor público foi colocado em foco como estratégia de colocação profissional.

Para que se possa elaborar uma estratégia que possa ser colocada em prática por um único indivíduo, dependendo o mínimo possível de ajuda externa e conexões prévias, mais próxima da ideia do self made man, vamos considerar formas de renda que possam ser alcançadas de forma mais independente possível, evitando grandes ilusões.

Coragem e força para sobreviver em um sistema injusto

No nosso modelo de sociedade, todos competem para adquirir uma parcela maior da riqueza socialmente produzida competindo uns com os outros em três ringues. A competição pode se dar no mercado de trabalho privado, no mercado de trabalho público e no empresarial. Para acumular uma quantidade razoável de riqueza que te permita ter uma vida financeira confortável, segura e estável em um país subdesenvolvido como o Brasil você tem que derrotar os concorrentes na disputa por vagas nas empresas públicas ou privadas ou pelos consumidores (no caso de empresas e profissionais liberais e informais).

O mercado de trabalho privado é um ambiente onde grande parte das vagas são preenchidas por laços familiares, amizades e indicações em geral, ou, na melhor das hipóteses, por análise de currículo, principalmente experiências anteriores (essas, as vezes só existentes por conta do primeiro fenômeno apontado: família, amigos, classe social e relações pessoais em geral).

O mercado de trabalho público se dá através de concursos de provas e títulos o que leva a um ambiente de concorrência mais verdadeiro do que o que existe no mercado privado, porém leva a elitização já que o acesso ao ensino de qualidade é restrito a classes sociais mais altas em um país pobre como o Brasil, repetindo o problema que ocorre nos mercados de trabalho privados: suposta concorrência em um jogo de cartas marcadas.

O ambiente empresarial costuma se dar pela competição pelo consumidor, mas é totalmente dependente de informação privilegiada, capacidade de investimento através de capital acumulado anteriormente e possiblidade de escala nas vendas, o que impõe um teto de crescimento em quase todas as empresas, que só furam esse teto quando conseguem lucros muito acima da média do mercado por acertarem apostas arriscadas, ou seja, quando dão muita sorte no mercado empresarial e se tornam capazes de fazer maiores investimentos voltados ao crescimento. Fora isso, a tendência desse mercado é a oligopolização por conta de informações técnicas e de mercado acumuladas; capacidade de investimento; e poder de escala que derruba a concorrência menor ou impõe um teto sobre seus ganhos. Dessa forma, apenas quem já tem dinheiro consegue ganhar mais dinheiro, com a exceção dos sortudos apontados anteriormente.

Sendo assim, além de tóxico por natureza, por ser baseado na competição em vez de colaboração, nosso sistema tem essa competição envenenada por injustiças que tornam o sistema um verdadeiro caos social para aqueles que começam nas piores posições financeiras e sociais.

Entretanto, do ponto de vista individual, a única alternativa de quase todos é tentar vencer dentro desse sistema como está posto, ou seja, dentro das regras do jogo como ele é, sejam as regras ou o jogo justos ou não. Para vencer nessa disputa, seja na criação progressiva de um currículo competitivo no mercado de trabalho privado; no acúmulo de conhecimento através dos estudos para concursos públicos; ou na tentativa de ser mais produtivo e competente para derrotar a concorrência, no caso de empresários e autônomos; o que fará diferença, fora os fatores externos enumerados nos parágrafos anteriores, é a coragem para falhar e a força para não desistir após sucessivas falhas. Para conquistar uma posição privilegiada nesse jogo é necessário não temer o fracasso e resistir a todos os fracassos que muito provavelmente se passará até que consiga a vitória, se um dia ela vier, já que se pode esperar muita coisa desse sistema, mas certamente não justiça.

Acontece que quando resolvemos nos dedicar a algo incerto como prestar um vestibular ou concurso, fazer um novo investimento ou atingir uma meta em um esporte, podemos até ser bem sucedidos em ter planejamento, metas e disciplina para tentar alcançar esses objetivos, mas não costumamos lidar bem com o fracasso. Muitos alunos na época de vestibular se dedicam muito aos estudos para aprovação em determinada universidade ou determinado curso, mas acabam desistindo quando não têm sucesso na primeira tentativa.

Ainda que tenhamos todas as oportunidades de preparação e façamos todo o necessário para atingir determinado objetivo, ainda assim, existe uma probabilidade de não termos sucesso em cada tentativa, por mais preparados que estejamos para tal. Pensando nisso, cheguei a conclusão que enxergar as nossas tentativas não só do ponto de vista de preparação individual, sem a qual as chances são quase nulas, mas também do ponto de vista estatístico pode ser útil para aceitarmos a aleatoriamente da vida real, tão diferente das ideias dos coachings.

No caso do vestibular, talvez o exemplo mais simples possível para essa explicação, podemos considerar que caso se estude toda a matéria de forma efetiva e se acerte a quantidade necessária para a aprovação em ótimos simulados, ainda assim, as chances são de apenas 50% de aprovação, por mais objetivamente preparado que se esteja. É claro que esse número é uma abstração, uma invenção para uma análise mais numérica e pessimista da vida.

Sendo assim, se partimos dessa hipótese de 50% de chance de sucesso após uma preparação eficaz podemos usar esse número para ir um pouco além em nossa hipótese imaginativa. Se na primeira tentativa a chance de sucesso é de 50%, na segunda as chances de sucesso já passam a ser 75%, enquanto na terceira tentativa de 87,5%. Podemos dizer então, se aceitarmos essa hipótese, que alguém totalmente preparado em suas tentativas de sucesso pode ser vítima da falta de sorte e não ter sucesso na primeira ou até mesmo na segunda vez que tentar, mas se persistir por mais uma tentativa, a probabilidade de sucesso se torna numericamente a mesma de ter que jogar dois dados e se derem números diferentes ganha-se o jogo.

Pague suas contas prestando serviços aprendidos no YouTube e divulgados na Olx

Serviços como tratamento de piscinas, limpeza a seco de estofados e instalação de sistemas de câmeras de segurança podem vir a ser os novos trabalhos de pedreiro e faxineiro do passado, devido ao fácil acesso as informações e equipamentos necessários para realização desses serviços e a possibilidade de divulgação em regiões amplas de forma gratuita. Com o conhecimento disponível no YouTube, ferramentas vendidas no Mercado Livre e anúncios gratuitos na Olx, já é possível viver de bico com uma renda maior do que um pedreiro e um faxineiro conseguem acumular mensalmente, já que esses serviços mais complexos citados tem menos oferta disponível no mercado e por isso são melhor remunerados.

No YouTube é possível aprender o necessário para prestar serviços de menor complexidade a nível residencial como limpeza de piscina de pequeno porte, limpeza de sofás domésticos e instalação de câmeras de segurança em residências. Com esse conhecimento e as ferramentas e produtos disponíveis na internet, é possível divulgar esse serviço na Olx e conseguir alguma renda para sobreviver na crise econômica, pelo menos até que as coisas melhorem do ponto de vista macro na economia brasileira. Para divulgação, basta criar uma logo e panfleto em aplicativos como o Canva, comprar alguns chips de celular e postar múltiplos anúncios na Olx.

Com três serviços diferentes sendo ofertados em uma grande plataforma como a Olx, uma máquina de cartão de crédito registrada até mesmo só com CPF, dá para conseguir trabalhar suficiente para sobreviver por algum tempo de forma minimamente confortável. Caso tenha sucesso e consiga ganhar R$100 por dia útil fazendo um ou dois serviços ao dia, talvez seja possível conseguir uma renda mensal de R$2000,00.

É claro que isso requer algum investimento mínimo, provavelmente de R$200 a R$500 em ferramentas básicas, e, por isso, já se torna inviável para boa parte dos trabalhadores do Brasil. Entretanto, grande parte da massa trabalhadora está trabalhando com entrega de comida e dirigindo em aplicativo com carro alugado, enquanto poderiam prestar serviços um pouco mais complexos e ter uma renda maior ou pelo menos correr menos risco nas ruas.

Com o desemprego em alta, muitos trabalhadores qualificados migraram para trabalhos em aplicativos, o que reduziu muito a renda possível de ser acumulada nesses tipos de serviços. Ao mesmo tempo em que serviços que demanda um conhecimento técnico levemente mais avançado oferecem uma remuneração um pouco melhor e de forma um pouco menos precária e perigosa.

Planejamento e método de estudo para concurso

A forma mais barata de se estudar para um concurso público é através de livros, apostilas e banco de questões online. Recomendo o uso de livros voltados para concurso para as matérias básicas e as apostilas da editora Nova Concursos para as materias específicas de cada concurso, além do site Aprova Questões. A maioria dos livros ou apostilas custa entre R$100 e R$150 e o Aprova Questões custa menos de R$40 por ano.

Para quem tem dificuldade de aprender sozinho, de forma autodidata, apenas com a leitura autônoma, a saída é melhorar sua capacidade de aprendizado primeiro exercitando sua leitura de forma geral e segundo começando a estudar por Português e Matemática (se cair matemática nas provas da carreira que você escolheu). Para melhorar sua leitura recomendo o ebook da Amazon 30 Obras Primas da Literatura Mundial, que custa só R$4 e pode ser lido pelo aplicativo Kindle Amazon (tem na PlayStore e na AppleStore) no celular, no computador ou em um aparelho Kindle, de forma confortável. Se fossem empilhados todos os livros dessa antologia de mais de 10 mil paginas, daria mais de um metro de livros um em cima do outro. É importante que se leia as histórias de maneira que se entenda o que está escrito, mesmo que tenha que ler novamente até cinco vezes cada parágrafo e pesquisar muitas palavras no dicionário, não tem problema. Já para estudar Português, Matemática e Informática (matérias básicas para a maioria dos concursos) recomendo os livros do Eduardo Sabbag, José Luiz de Moraes e Renato dos Santos da Costa, respectivamente.

Depois de lidos os clássicos da literatura para melhorar sua leitura, caso seja deficiente, e estudado as matérias básicas de Português, Matemática e Informática você já terá uma capacidade de aprendizado suficiente para estudar sozinho só com apostilas. A próxima etapa é elaborar um planejamento.

Como será mostrado no método de estudo que utilizo cada sessão de estudos terá aproximadamente 2h de duração, então, esse será o tempo de estudo diário mínimo que você terá que se dedicar seis dias por semana. Não se preocupe se só tiver 2h por dia para estudar, o importante é que em poucos anos você já terá estudado todo o conteúdo. Para ter uma noção do quanto tempo você levará para estar pronto para determinada prova faça a seguinte estimativa: Tempo de Estudo = Salário do Cargo dividido por quinze. Isso descontando o tempo de leitura dos clássicos da literatura e do estudo inicial de português, matemática e informática, é claro. Só para se ter uma noção, se dedicando 2h por dia, seis dias por semana durante um ano provavelmente você terminaria os livros e as apostilas das matérias básicas. Se a partir de então você comprar uma nova apostila e estudar para um concurso de um cargo com salário de R$5000 e seguir estudando 2h por dia, em seis meses você estaria preparado para a prova, a partir dessa estimativa inicial.

Método de estudo

Cada sessão de estudos tinha duas horas de duração, divididas assim:
Discplina A:
20 min de leitura (cronometrados)
40 min de fichamento
10min de pausa
40min de memorização
20 min de exercícios
10 min de pausa
Disciplina B:
20min de leitura (cronometrados)
40min de fichamento
10min de pausa
40min de memorização
20 min de exercícios
10 min de pausa

Assim sucessivamente de acordo com o número de disciplinas estudadas por dia que varia com o tempo de estudo diário que foi planejado.

Como eu fazia o fichamento no papel?

-Sublinhando com cada cor de caneta eu dividia o texto em:Títulos, Subtítulos, Tópicos e Itens. Marcava apenas frases curtas ou palavras chave
- Numa folha de papel reescrevia verticalmente os títulos, subtítulos, tópicos e itens usando a mesma cor de caneta usada para sublinhar as frases ou palavras chave no livro ou apostila.

Como decorar tanta coisa aleatória?

Eu memorizo primeiro quais eram os subtítulos (em vermelho) de cada título (em preto). Depois quais eram os tópicos (em verde) de cada subtítulo (em vermelho). E por último, quais eram os itens (em azul) de cada tópico (em verde).

Revisões
-Revisão parcial: Sessões 10, 20, 30, etc. Revisava o conteúdo acumulado desde a última revisão parcial
-Revisão total: Sessões 40, 80, 120, 160, 200, etc . Revisava todo o conteúdo acumulado desde o início

Exercícios

Para realizar uma busca no banco de questões, use os filtros.Comece buscando questões não resolvidas, quando acabarem, filtre pelas resolvidas que você errou e por fim as resolvidas que você acertou. Nesse período você terá feito várias vezes cada questão, ou pelo menos as difíceis. Busque as questões para cada disciplina usando os seguintes filtros: cargo+banca; banca+nível; cargo; nível.

Testes

Para saber se estava preparado para determinado concurso, sempre anotava o percentual de acertos de cada bateria de questões, e quando chegava ao patamar necessário estimado em todas as disciplinas separadas, eu partia para a última prova do concurso para o qual estava me preparando e comparava com a nota de corte real daquele ano. O truque era anotar as respostas em folha separada e corrigir no gabarito sem olhar as questões da prova, assim dá para refazer a mesma prova várias vezes como teste já que não se sabe a resposta de cada questão. Quando acertasse acima da nota de corte nas últimas três provas antigas do concurso, passava a me considerar apto para tal prova e mantinha apenas revisões e exercícios até a data da prova. Dessa forma, fica possível estudar para um concurso de cada vez, sem se enrolar estudando para duas ou três provas ao mesmo tempo e correr o risco de não se preparar o suficiente para nenhuma delas.

Para saber se está preparado para fazer provas antigas, tendo seus percentuais de acerto de cada disciplina anotados, use essa tabela:

Acertos necessários x quantidade de vagas:
5 vagas: 100% (gabaritar a prova)
12 vagas: 95%
25 vagas: 90%
50 vagas: 85%
100 vagas: 80%
200 vagas: 75%
400 vagas: 70%
800 vagas: 65%
1500 vagas: 60%
3000 vagas: 55%
6000 vagas ou mais: 50%

Poupar 25% do salário possibilita aposentadoria em 15 anos

Se compararmos o desempenho da Bolsa de Valores de São Paulo nos últimos 15 anos e retirarmos a inflação do período, perceberemos que um simples investimento único, sem movimentação durante 15 anos, no índice Ibovespa traria um retorno médio anual de 10% acima da inflação. Se fizermos a mesma análise em outras bolsas de valores pelo mundo notaremos a mesma tendência de 10% ao ano para períodos longos como 15, 20 anos ou mais.

Assim sendo, uma aplicação mensal no índice Ibovespa durante 15 anos dobraria o montante investido nesse período. Supondo que alguém com renda alta o suficiente e custo de vida não extravagante poupe 25% de seu salário (e seu salário acompanhe a inflação), em 15 anos poderá fazer retiradas mensais no valor de 75% do seu salário, o que significa, na prática, uma possibilidade segura de aposentadoria.

Consideremos agora que em vez de somente aplicar no índice da bolsa, esse investidor prefira estudar análise técnica e, usando ferramentas gráficas como Figuras de Dow, Ondas de Elliot e Candlestick, esse investidor tenha sucesso e consiga um retorno de 15% ao ano em suas aplicações. Nesse caso, caso prefira se aposentar de forma mais segura investindo no índice após os anos de especulação, esse investidor poderia se aposentar agora em apenas 12 anos de aplicações.

Se formos muito otimistas e esse investidor fictício muito habilidoso e sortudo, podemos considerar um retorno anual de 20% ao ano (extremamente improvável no mundo real das finanças). Nesse caso, em apenas 10 anos de aplicação a aposentadoria seria possível mantendo a mesma renda líquida mensal do período de aplicações.

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